Estereotipias: Compreender para Cuidar com Consciência e Empatia

O que são Estereotipias?

As estereotipias são movimentos repetitivos, sons ou comportamentos que muitas vezes surgem de forma involuntária e que não têm um propósito funcional direto. São comuns em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas também podem estar presentes em outros quadros neurológicos ou até mesmo em crianças neurotípicas em momentos de excitação, stress ou frustração.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), as estereotipias motoras são um dos critérios para o diagnóstico do TEA, embora sua presença isolada não signifique necessariamente uma condição clínica.

Exemplos Comuns de Estereotipias

1. Balançar o corpo

Descrição: Pode ocorre como forma de autorregulação sensorial. Crianças fazem isso para sentir o corpo ou aliviar stress.

Como ajudar: Propor atividades de movimento estruturado, como dança ou trampolim.

2. Girar o corpo

Descrição: Geralmente tem efeito calmante ou de procura de estímulo vestibular.

Como ajudar: Terapias ocupacionais podem usar técnicas de integração sensorial para redirecionar essa necessidade.

3. Sacudir ou abanar os braços

Descrição: Comum em momentos de excitação ou frustração. É uma forma de expressão.

Como ajudar: Reforçar outras formas de comunicação emocional, como o uso de imagens (PECS) ou expressões faciais.

4. Abanar as mãos (hand flapping)

Descrição: Um dos comportamentos mais icónicos no TEA, especialmente em estados de alegria intensa.

Como ajudar: Observar se a criança está sobrecarregada e oferecer pausas sensoriais.

5. Bater a cabeça

Descrição: Pode indicar dor, frustração ou dificuldade em comunicar.

Como ajudar: Avaliação médica e comportamental urgente. Muitas vezes, há dor oculta (ex. otites). Oferecer alternativas para a expressão de desconforto.

6. Bater o próprio corpo

Descrição: Relaciona-se com dor emocional ou busca sensorial.

Como ajudar: Utilizar coletes de compressão (com prescrição e orientação), acolher emocionalmente e investigar causas externas.

7. Morder os lábios / Morder as mãos

Descrição: Pode ser autoestímulo oral ou resposta à ansiedade.

Como ajudar: Substituir por objetos de mordida sensorial, como colares terapêuticos.

8. Cutucar os olhos

Descrição: Estímulo sensorial visual. Perigoso se frequente.

Como ajudar: Brinquedos visuais como lanternas ou slime com glitter podem desviar o foco.

9. Girar objetos

Descrição: Pode fornecer prazer visual previsível. Normalmente visto com rodas ou tampas.

Como ajudar: Usar esse interesse em brincadeiras dirigidas (ex.: contar voltas, criar jogos com rodas).

 

Por que ocorrem as estereotipias?

As causas das estereotipias são variadas e envolvem:

Busca por autorregulação sensorial

Expressão de emoções (felicidade, ansiedade, frustração)

Falta de meios de comunicação eficazes

Excesso de estímulo ou hipoestimulação ambiental

Segundo o estudo Baranek (2002), comportamentos sensoriais atípicos estão presentes em mais de 90% das crianças com TEA. Outro estudo de Leekam et al. (2007) indica que estereotipias não são apenas “tiques”, mas fazem parte de uma complexa tentativa de organização neurológica.

 

Devo corrigir ou inibir as estereotipias?

Não necessariamente.

É importante entender se a estereotipia:

1. Prejudica a criança fisicamente ou socialmente

2. Interfere na aprendizagem ou interações

3. É sinal de sofrimento

 

Se não causar prejuízo, a orientação atual é: aceitar com empatia, respeitando o neurodesenvolvimento da criança.

Estratégias para famílias e educadores

Atenção ao contexto: Quando a estereotipia ocorre? O que a desencadeia?

Ambientes estruturados e previsíveis reduzem ansiedade.

Rotinas com pausas sensoriais (salas com bolas, balanços, luz suave).

Ensino de estratégias alternativas de autorregulação, com a ajuda de terapeutas ocupacionais ou psicólogos especializados.

Acompanhamento multidisciplinar com profissionais como:

Terapeuta Ocupacional (com formação em Integração Sensorial)

Psicólogo infantil

Neuropediatra

Educador Especial

Conclusão: Normalizar é cuidar

Estereotipias não são “birras” ou “manias” — são mensagens do corpo e da mente que precisamos saber ouvir. A resposta não deve ser punição, mas empatia, estrutura e suporte especializado.

Compreender as estereotipias é dar um passo rumo à inclusão real, ao respeito pelas diferenças e à construção de um ambiente seguro para todas as crianças se desenvolverem plenamente.

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