E aí, tu não é mais autista, né?” — a saga invisível de virar adulto com TEA

Bah, vou te contar uma coisa que só quem vive sabe mesmo. Sou um homem de 33 anos, diagnosticado com autismo (nível 1, aquele que dizem ser “leve”, mas que de leve não tem nada). Cresci ouvindo que com apoio certo, terapia aqui, fono ali, ia dar tudo certo. E deu, até certo ponto… mas quando cheguei na fase adulta, parece que o mundo me disse: “agora te vira, guri”.
Quando eu era criança, ainda rolava um esforço: a escola adaptava algumas coisas, minha mãe se virava em mil pra entender os meus jeitos, e os terapeutas eram tipo uns anjos. Mas foi só eu fazer 18 que o suporte evaporou. Como se o autismo fosse tipo catapora — passou a infância, passou tudo. Só que não, né?
A real é que crescer com autismo é tipo jogar um jogo em que ninguém te dá o tutorial. Tu vai pegando as manhas na raça, errando bastante, muitas vezes sendo julgado, e tentando parecer “normal” pra não incomodar. E o mais louco é que, quanto mais a gente aprende a mascarar, mais as pessoas acham que a gente tá bem — e aí, perde qualquer ajuda que ainda tinha.
Vou te dar um exemplo: quando entrei no primeiro emprego, me esforcei pra parecer o cara sociável, risonho, esforçado. Só que por dentro, tava num caos. Barulho do escritório me deixava à beira do colapso, piadinha de colega me deixava perdido (nunca sei quando tão brincando ou falando sério), e aquele tal de “happy hour” era um pesadelo disfarçado de confraternização. Saí várias vezes no intervalo só pra respirar no carro e não surtar.
Mas se tu reclamasse, vinham com aquele papo: “Tu é inteligente, só tá sendo preguiçoso” ou “Ah, mas tu trabalha direitinho, não parece ter nada”. Como se autismo tivesse cara, sotaque ou hora pra aparecer.
Teve uma época que tentei terapia de novo, mas não tinha profissional preparado pra adultos com TEA. A maioria tava focada em crianças, em ABA, em linguagem. E a gente, adulto, fica no limbo. Faltam serviços, faltam políticas públicas, falta empatia. Parece que a gente tem que provar o tempo todo que merece um lugar no mundo.
E sabe o que mais dói? É que muitos de nós viram adultos isolados, ansiosos, com depressão, ou presos num ciclo de empregos curtos e esgotamento. Tem gente que acha que é drama. Mas não é. É o resultado de anos vivendo num mundo que não nos entende.
Mas olha, não é só desabafo. Tô aqui pra dizer que a gente existe, sim. Que tem uma galera adulta no espectro, que vive na surdina, se escondendo por vergonha, por medo, por falta de espaço. E é por isso que falar disso é tão importante.
Se tu que tá lendo se identifica, saiba: não tá sozinho, meu velho. E se tu não é autista, mas convive com alguém que é, escuta mais, julga menos. Às vezes, um “tamo junto” já muda o dia.
A real é que a gente não quer pena, só queremos continuar tendo apoio — como qualquer pessoa que continua sendo ela mesma, independente da idade. Porque o autismo não “passa”. A gente só aprende a dançar conforme a música… mesmo que ela toque alto demais pra nossos ouvidos.
As piadas sem graça, que depois de explicadas, ficam ainda mais sem graça 🤣🤣🤣