O trauma pode causar autismo?

Não há provas de que eventos traumáticos causem autismo em crianças ou adultos.

O autismo é resultado de diferenças no desenvolvimento cerebral. Ele costuma ser notado desde cedo, às vezes por volta de 1 ou 2 anos de idade.

Alguns estudos anteriores encontraram ligações entre o transtorno de estresse pós-traumático (PTSD – Post-Traumatic Stress Disorder) e traços autistas. Por exemplo, um estudo de 2015 mostrou que mulheres autistas com traços mais marcantes tinham mais chances de terem passado por abusos.

No entanto, esse estudo foi retrospectivo (usou dados já existentes) e não provou que o trauma causa autismo — apenas que mulheres autistas frequentemente passam por situações traumáticas.

As pessoas não desenvolvem autismo na vida adulta, mesmo que tenham vivido traumas. Porém, como os sintomas de PTSD podem se parecer com os do autismo, é possível que um seja confundido com o outro.


O que causa o autismo?

A ciência ainda não sabe exatamente por que o autismo acontece em algumas pessoas e em outras não, mas há uma forte ligação genética.

Mais de 1.000 genes diferentes já foram associados ao autismo. Muitos desses genes afetam como o cérebro se desenvolve.

Separadamente, cada gene pode ter pouco impacto, mas juntos, eles podem aumentar significativamente as chances. Isso pode explicar por que o autismo costuma ocorrer em várias pessoas da mesma família.

Outros fatores que também podem aumentar o risco incluem:

  • Idade avançada dos pais no momento da concepção
  • Exposição dos pais à poluição do ar ou a certos pesticidas durante a gravidez
  • Diabetes, obesidade ou doenças autoimunes da mãe durante a gravidez
  • Nascimento muito prematuro
  • Peso muito baixo ao nascer
  • Complicações no parto que privam o cérebro do bebê de oxigênio (hipóxia cerebral)

Esses fatores não causam autismo sozinhos, mas podem aumentar a probabilidade.

Importante: não há nenhuma ligação entre vacinas e o autismo.


O trauma pode ser confundido com autismo?

Sim. É possível confundir PTSD com autismo, principalmente em crianças pequenas.

Os dois podem ter sintomas parecidos, como:

  • Ansiedade ou nervosismo
  • Pouca ou nenhuma fala
  • Evitar certos lugares ou situações
  • Reações fortes a estímulos como barulhos altos ou toque
  • Agressividade ou frustração
  • Isolamento social

Porém, a origem desses comportamentos é diferente. No PTSD, os sintomas surgem como resposta a algo muito assustador, que faz a criança temer qualquer coisa que relembre esse evento.

No autismo, os comportamentos vêm da dificuldade de se comunicar, de entender outras pessoas ou de lidar com estímulos sensoriais.

Além disso, é possível que uma pessoa seja autista e tenha PTSD ou outros problemas relacionados ao trauma.


O trauma é comum em pessoas autistas?

Sim. A maioria das pessoas vive pelo menos uma experiência traumática na vida. Nem todas desenvolvem consequências duradouras, mas algumas podem acabar desenvolvendo PTSD.

Pessoas autistas parecem ter mais chances de passar por traumas e também de desenvolver PTSD, em comparação com pessoas não autistas.

Um estudo de 2018 citou uma pesquisa anterior em Istambul que mostrou que crianças atendidas em uma clínica de autismo tinham o dobro de chance de ter sintomas de PTSD em relação à população em geral. Outros estudos também indicam que crianças autistas correm mais risco de sofrer abuso.

Além disso, o simples fato de ser autista em um mundo feito para pessoas “neuronormativas” pode ser traumático. Por exemplo, pessoas autistas podem:

  • Sentir certos estímulos (como barulho alto) como ameaçadores ou dolorosos
  • Ter dificuldade em identificar situações perigosas
  • Sentir-se ameaçadas por mal-entendidos sociais
  • Sofrer bullying

O DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, revisão de texto — da American Psychiatric Association, ou Associação Psiquiátrica Americana) não inclui essas experiências na definição oficial de trauma, que exige “exposição a morte real ou ameaçada, lesão grave ou violência sexual”. Isso pode fazer com que profissionais ignorem como a percepção influencia a resposta ao trauma.


O trauma pode agravar o autismo?

É possível que experiências traumáticas ou situações difíceis aumentem os comportamentos típicos do autismo.

Um estudo de 2019 mostrou que a terapia chamada EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing — Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), usada para PTSD, ajudou adultos autistas com histórico de traumas. Eles relataram melhora tanto nos sintomas de PTSD quanto em traços autistas.

Isso sugere que os sintomas relacionados ao trauma podem intensificar o autismo, mas que tratá-los pode aliviar os dois. Ainda assim, são necessárias mais pesquisas sobre isso.


Quando procurar ajuda?

Se você está sofrendo emocionalmente com frequência ou acha que pode ter PTSD, procure um profissional de saúde mental qualificado.

Um terapeuta com experiência em autismo e comorbidades (condições associadas) pode ajudar muito.


Ajuda está disponível

Se você ou alguém que você conhece estiver em crise, pensando em suicídio ou automutilação, procure ajuda:

  • Ligue ou mande mensagem para o 188 (Centro de Valorização da Vida — apoio gratuito 24h).
  • No Brasil, o número de emergência é 190 (Polícia) ou 192 (SAMU).
  • Se você estiver fora do Brasil, busque uma linha de apoio local com a Befrienders Worldwide (Amigos pelo Mundo).

Se estiver ajudando outra pessoa, permaneça com ela até que a ajuda chegue, se for seguro fazer isso. Remova objetos perigosos, se possível.


Resumo

Não há evidências de que traumas causem autismo. Porém, os sintomas do trauma podem parecer com os do autismo. Além disso, experiências difíceis podem acentuar comportamentos autistas, fazendo com que sejam mais percebidos.

Apenas um profissional de saúde mental pode diagnosticar corretamente se uma pessoa é autista, tem PTSD, ou ambos.

Mais estudos são necessários para entender como o trauma afeta pessoas autistas e como oferecer o melhor suporte possível.

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